Aviso: Os filmes indicados aqui estavam em cartaz antes da suspensão das atividades culturais por conta da pandemia. Manteremos as recomendações, pois os interessados podem localizar esses filmes em plataformas de streaming

VOCÊ NÃO ESTAVA AQUI
(Sorry We Missed You, de Ken Loach, 101 min, Drama, Reino Unido/França/Bélgica e Irlanda do Norte, 2019)
Você não estava aqui é um filme necessário, pois nos ajuda a entender a farsa por trás da ideia do empreendedorismo como sinônimo de liberdade, quando o que vemos é o controle do trabalhador por meio de dispositivos tecnológicos. O filme acompanha a rotina extenuante de um casal. A mulher, além do trabalho de cuidadora de idosos, realiza as tarefas domésticas e fala com os filhos por telefone nos intervalos de locomoção. O diretor consegue, ao longo do filme, despertar sentimentos de angústia e raiva aflorados pelas semelhanças com o nosso país, embora traga alguns relampejos de esperança. Se o cinema nos ajuda a enxergar as nossas precariedades, como faremos para promover uma transformação social? Ken Loach dirigiu Eu, Daniel Blake, entre outros filmes. Está em cartaz em diversos cinemas em São Paulo. (Rita Leão)

FIM DE FESTA
(de Hilton Lacerda, 94 min, Drama, Brasil, 2020)
Mais um filme instigante vindo do pólo de Pernambuco, do jovem diretor Hilton Lacerda, que nos deu o premiado “Tatuagem” (2013). O filme fala de choque de gerações, mesclando elementos da cultura pernambucana e do cinema policial. Conta a história de um policial civil (o excelente ator Irandhir Santos em mais uma atuação impecável), que, sentindo-se estressado, sai de férias durante o Carnaval, mas retorna antes do previsto para investigar o caso de uma turista francesa que foi brutalmente assassinada. Ao chegar em casa, encontra seu filho com um casal da Bahia que veio para o Recife festejar o Carnaval. Os três vivem uma relação aberta dentro da casa do policial, que, durante a investigação do crime, passa a questionar a relação com o seu filho e com o mundo à sua volta. Um ótimo filme que merece atenção. (João Moris)

AS INVISÍVEIS
(Les Invisibles, de Louis-Julien Petit, 102 min, Drama-Comédia, França, 2018)
Um drama em tom de comédia sobre as moradoras de um abrigo de sem-tetos em Paris. O abrigo feminino Envol irá fechar as portas em três meses e as assistentes sociais que cuidam das moradoras entram numa verdadeira corrida contra o tempo para reintegrar essas mulheres na sociedade e no mercado de trabalho. O diretor evita clichês do gênero e o viés melodramático, adotando um tom documental e leve ao esforço hercúleo (e transgressor) das assistentes sociais para que as moradoras do abrigo, quase todas atrizes amadoras, tenham uma vida digna fora do abrigo. Essa escolha do tom pelo diretor é ao mesmo tempo a força e a fraqueza do filme, alternando momentos intensos e engraçados com momentos em que a história se dispersa pela falta de um roteiro mais coeso e amarrado. Mas, pelo seu aspecto inusitado, é um filme que acompanhamos com interesse. (João Moris).

O JOVEM AHMED
(Le Jeune Ahmed, de Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne, 90 min, Drama, Bélgica/França, 2019)
O novo filme dos cultuados diretores belgas, conhecidos como Irmãos Dardenne, volta a tocar nas feridas da Europa contemporânea multicultural, miscigenada e cheia de paradoxos. Ahmed é um menino de mãe francesa e pai árabe (ausente) recém convertido ao islamismo, que aos 13 anos de idade, rompe com o seu mundo familiar e escolar para seguir os preceitos muçulmanos ao pé da letra. Assim sendo, segue fervorosamente as palavras de um imã local, e adotando os passos do primo extremista, ele começa a rejeitar a autoridade da mãe e da professora e se torna cada vez mais radical. O estilo dos Dardenne (câmera nervosa colada aos personagens) está presente praticamente em todo o filme, mantendo um estado de tensão constante até o clímax final surpreendente. Um filme polêmico que exige reflexão e gera muitas discussões. (João Moris)

PARASITA
(Gisaengchung, de Bong Joon-Ho, 2h 12m, Coreia do Sul, 2019)
Parasita é um filme que nos aproxima dos sul-coreanos, pois faz pensar sobre o abismo social provocado pelo sistema capitalista, parecido em todo o globo terrestre. Pessoas capacitadas e criativas são impedidas de exercer e viver os seus potenciais ao serem relegadas ao subsolo – concreta e metaforicamente, em um dos núcleos familiares retratados no filme. Em contraposição, o tédio e a acomodação são visíveis em outra família, que dispõe de muita riqueza. A trama provoca ao mesmo tempo o riso e a comoção, com um pouco de suspense. Mas afinal, no contexto do filme, qual é a família parasita? Parasita venceu, em 2020, o Oscar de Melhor Filme, Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original, além de Palma de Ouro e outros diversos prêmios importantes. (Rita Leão)
Está em cartaz em diversos cinemas em São Paulo, inclusive no Circuito SPCine. Veja os horários e confirme a programação: < http://www.circuitospcine.com.br/cinemas/centro-cultural-sao-paulo-ccsp-sala-paulo-emilio/>

DILILI EM PARIS
(de Michel Ocelot, 95 min, animação, França/Bélgica/Alemanha)
Uma das animações mais lindas que vi nos últimos anos aborda a curiosidade em conhecer outros mundos. Dilili viaja da Nova Caledônia para Paris e encontra celebridades das artes, da literatura e da ciência. Ao dialogar com elas, questiona qual seria a sua verdadeira vocação, pois tudo a interessa. A protagonista depara-se com preconceitos revelados por parte dos parisienses, mas nem por isso deixa de ser acolhida e valorizada por outros. Ao mesmo tempo investiga, com a ajuda de um amigo, um crime terrível contra meninas de sua idade. Dilili em Paris venceu o Prêmio César 2019 de melhor animação. O diretor Michel Ocelot também dirigiu, entre outras obras, Kiriku e a Feiticeira (1998), Príncipes e Princesas (1999), Kiriku e os Animais Selvagens (2005), As Aventuras de Azur e Asmar (2006), Contos da Noite (2011) e Kiriku, Homens e Mulheres (2012). (Rita Leão)

JOJO RABBIT
(de Taika Waititi, 108 min, Nova Zelândia/República Checa/EUA)
Baseado no livro de Christine Leunensum, levou o Oscar 2020 de melhor roteiro adaptado. Em um vilarejo ocupado pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, Jojo é um nazista ferrenho de 10 anos, que tem Adolf Hitler (interpreteado pelo diretor do filme) como amigo imaginário. Um dia, Jojo descobre que sua mãe está escondendo uma judia no sótão de sua casa. Depois de várias tentativas frustradas de expulsá-la, o jovem rebelde começa a desenvolver uma relação especial com a nova hóspede. Uma sátira aos horrores do genocídio nazista. Filme necessário para a categoria docente, com ótimas possibilidades de também ser exibido aos estudantes, especialmente do Ensino Médio e/ou EJA, pois permite uma boa discussão sobre o neonazismo. Para o Ensino Fundamental 2, é bom observar que a classificação indicativa é para 14 anos, alegada (pelo Ministério da Justiça) por conta de “violência” e “drogas lícitas”. Na minha opinião, a violência é simbólica e insignificante perto dos programas vespertinos da nossa TV aberta. Em todo caso, é importante considerar a classificação indicativa para uso escolar (contando com o bom senso do professor). Como sempre, recomendamos que se assista com antecedência. (Cláudia Mogadouro)

OS MISERÁVEIS
(Les Misérables, de Ladj Ly, 102 min, França)
Este contundente filme dividiu o prêmio da crítica no Festival de Cannes 2019, com Bacurau. É incrível!!! Recomendo com vontade! Dirigido pelo cineasta africano, do Mali, Ladj Ly, o filme discute a violência policial na capital francesa, inspirado nos protestos de 2005 e 2006. Esteve na final do Oscar 2020, indicado para prêmio de melhor filme internacional. A situação da violência policial na França, em um bairro pobre e majoritariamente negro, tem muitas semelhanças com nosso país. Vale conferir. (Cláudia Mogadouro)

ADONIRAN, MEU NOME É JOÃO RUBINATO
(de Pedro Serrano, documentário, 92 min, Brasil)
Adoniran Barbosa, autor de sucessos como "Trem das Onze" e "Saudosa Maloca", carrega o título de maior sambista paulista de todos os tempos. A cidade de São Paulo era a personagem principal de suas canções e radionovelas. Através de imagens de arquivos raras e nunca vistas antes, o compositor e cantor paulistano, que faleceu em 1982, é redescoberto pelo público.
O documentário é excelente e traz novidades até pra quem é profundo conhecedor da obra e da vida de Adoniran Barbosa. Suas músicas, embora engraçadas, trazem uma melancolia que vem de uma empatia com a população pobre “que não tem onde dormir”. Importante documentário para professorxs, mas também para ser exibido aos estudantes, de Ensino Fundamental 2, Ensino Médio e EJA. Classificação Indicativa: 12 anos.